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terça-feira, 28 de abril de 2009

max e edgard

eu tenho um conto que escrevi e que gosto muito. também baseado em um sonho e que vai servir de base pra alguma outra coisa. lá vai!

MAX E EDGARD

Ivan não se comunica. Ele não gosta das palavras. Mas como contar a história de Ivan sem palavras? Faço isso a contragosto de Ivan; ele não gostaria de virar aquilo que menos aprecia - "menos aprecia"? Aprecia em nada.
Ivan acha perda de tempo falar e ouvir. Entende que as palavras são responsáveis por toda a falta de comunicação do mundo. Mora em um apartamento sozinho e nunca pensou em ter companhia, acha totalmente dispensável ter alguém por perto. Ele não se interessa pelas pessoas ao seu redor, salvo por uma única exceção: uma senhora, sua vizinha, também solitária e que passa os dias a tricotar em frente a televisão. Mas, ao contrário do vizinho Ivan, dona Aurora sente necessidade de companhia, por isso deixa sempre a televisão ligada, não importa o que faça.
Do lado de fora do prédio onde vivem, os sons são muitos, as palavras se confundem, as pessoas não se entendem. O lado de fora é igualmente solitário, porém mais caótico. Por isso, Ivan evita sair de casa. Ivan não quer se deparar com essa multiplicidade de sons e cores.
Não liga para literaturas e suas interpretações. Ele não acredita na interpretação; ela só gera discórdia e confusão. Para Ivan as coisas são o que são. Tudo seria tão bom se fosse só a música clássica e os pequenos ruídos do dia-a-dia! Era isso que Ivan pensava, embora ninguém soubesse, porque Ivan nunca falava o que pensava. Ivan tinha uma coleção de discos e cds de música clássica. Era o que ele gostava de fazer era dormir no sofá escutando música clássica. Ele também gostava do som do liquidificador e da máquina de lavar roupas. E se a cidade fosse só buzinas e carros passando talvez ele gostasse da cidade também. De lá do alto do prédio ele gostava, de onde ele não escutava vozes.
E ele gostava da Dona Aurora também. Mas não entendia o por quê de tanta insistência naquela presença ausente que era a sua televisão. Gente irreal e falante para a vida da pobre Aurora. Ela nem sequer lhes presta atenção! Ivan queria ser uma presença real para Dona Aurora, mas era demasiado tímido para se aproximar. E, além do mais, não gostava de falar. E ao que se podia notar, dona Aurora prezava pelas palavras. Assim, prezava-as soltas, como expressões de vozes, mas não era muito atenta aos significados. Era um pouco surda e não compreendia muito bem o que se dizia nas novelas. Se fossem faladas em alemão não faria muita diferença (dona Aurora nunca estudara alemão, nem outras línguas). Também pouco faladoura. Conversava com os feirantes e caixas de farmácia, mas não se estendia muito além das conversações triviais que se presume.
Dona Aurora era a única que notava o vizinho. Ivan sempre passava desapercebido. As pessoas não lhe dirigiam a palavra em lugar algum. Nem sequer lhe entregavam folhetos explicativos ou propagandas. Talvez, por um motivo mágico, sabiam que Ivan não era ser comunicante. Ou, ao longo de sua vida, Ivan desenvolveu a habilidade de passar desapercebido para evitar incomodos. Ou ele simplesmente não existia. A segunda hipótese é, para mim, a mais plausível. E também para dona Aurora. Ela admirava o caminhar deslizante de Ivan por entre as multidões. Parecia um fantasma. Nem lhe esbarravam. Às vezes ela o seguia até o supermercado - nada nem ninguém fazia perguntas a Ivan. Sabe essas coisas que sempre acontecem: "Tem trocado? Quantos quilos? Dia bonito, heim?"? Nada.
Tinha um casal de vizinhos que sempre brigava por tolices. Ela queria requeijão light sem gordura trans e absorvente com cobertura extra seca e cápsulas de gel hiperabsorventes com abas ultrafinas. Ele trazia só o requeijão light e absorvente com cobertura ultraseca e abas extra finas. Eram sempre desentendimentos. Ivan tentava nunca ouvir, mas os gritos eram mais potentes que suas caixas de som. Um dia se divorciaram. O apartamento foi vendido. Ivan ficou feliz. Mais ainda porque a nova vizinha nunca estava. E quando estava era só sua cara fechada de sono passando sem olhar a ninguém. Dona Aurora não gostou da nova vizinha, era sombria e sóbria. Mas Ivan não se importava, contanto que não lhe dirigisse a palavra. E isso a nova vizinha não fazia, assim como todos os que cruzavam o caminho de Ivan.
Acho que basta de tantas palavras explicativas. Ivan já deve estar contorcendo-se no túmulo de tantos carácteres que foram gastos com sua pessoa. Porém, que me perdoe o falecido, devo prosseguir até minhas palavras culminarem no fatídico momento de sua bela morte.
Ivan passou todo um sábado observando dona Aurora. Nem música escutava nesse dia. Sentia os passos, ouvia os ruídos da tv por detrás das paredes, às vezes uma vassourada. Sentiu vontade de estar ali no sofá assistindo alguma coisa com ela. Sentiu-se estranho. Passou toda a noite em claro pensando em dona Aurora e na sua solidão. Ele não se considerava solitário porque não precisava de companhia. A solidão só existe se você sabe o que é ter alguém. Ivan não sabia o que era a companhia, consequentemente não sabia o que era a solidão. Mas naquela noite sentiu um nó na garganta, um frio no estômago. Uma vontade de segurar na mão de dona Aurora. De ter e ser uma companhia. Mas ele não sabia do "ter". Lutava, fingia que só dona Aurora é que precisava de alguém. Ele não sabia e nunca soube. Quis só ser uma companhia, para que dona Aurora não se sentisse sozinha. Ele gostava dela.
Quem sabe ela não gostaria de uma surpresa? Ivan preparou uma surpresa. Um domingo pela manhã ele foi à porta de Dona Aurora. Bateu. E mal ela abrira a porta ele já estava puxando-a pelo braço. Ficou assustada com a falta de delicadeza do rapaz. Ele a arrastou pelo corredor. De início ela tentou lutar, mas logo percebeu que sua força era inútil e se deixou levar. Aos poucos o medo que sentia foi se tornando curiosidade. Para onde ele a estaria levando? E atravessavam ruas, andavam por longas calçadas, entravam e saiam de metrôs. Ela permaneceu calada; imaginou uma brincadeira e a curiosidade foi se tornando felicidade. O silêncio dos dois fazia parte da brincadeira, isso pensava Dona Aurora.
Chegaram a uma estação de trem abandonada. Ivan ajudou a velhinha a subir num dos vagões. Dentro dele havia toda sorte de velharias. Muitos móveis empoeirados, engenhocas que não tinham mais utilidade, um sofá, uma televisão, um aparelho de dvd e um triturador de papel enorme. Ivan fez um gesto para que Dona Aurora se sentasse. Ela o fez, sem olhar para onde. Ele colocou um dvd e ligou a televisão. A curiosidade voltava para Dona Aurora. Nos créditos iniciais aparecia o título do filme: Max e Edgard. Logo seguia-se uma cena de dois senhores conversando, sentados a uma pequena mesa redonda. Eles falavam uma língua que Dona Aurora não podia entender. Ivan colocou uma legenda, em inglês. Dona Aurora apertava os olhinhos, mas não era a vista ruim que tornava o filme ainda mais confuso; ela simplesmente não entendia a língua. Aquelas palavras não faziam o menor sentido. Ivan mudava a língua falada pelos personagens e mudava também as legendas e tudo ia ficando cada vez mais confuso para a Dona Aurora. Ela foi ficando cada vez mais angustiada. A incompreensão a transtornava, aquele monte de palavras soltas comia seu cérebro. Até as traduções para o português, que ela pensou "poderiam ser um alívio", não faziam sentido algum. Daí Ivan colocou no mudo. Uma calma inexplicável tomou conta de Dona Aurora. E tão calma ficou que nem se alarmou quando Ivan se atirou no triturador de papel. Seus músculos relaxaram, ela recostou no sofá e tranquilamente prestava atenção em cada gesto daqueles dois senhores. E agora ela entendia tudo. Enquanto isso, Ivan virava pedacinhos de papel triturado. Alguns até iam parar por detrás das telas como se fizessem parte do filme. Dona Aurora era só tristeza e compreensão agora. Ela entendia que Ivan precisava se transformar naquilo: troços de papel sem utilidade, fragmentos impassíveis de interpretação.
Dona Aurora agora tinha em mãos o Max e Edgard e sempre que precisava de companhia colocava-o no mudo, sentava-se e prestava atenção.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

terra ataca

projeto em processo. 
também veio de um sonho.
desse eu tenho bastante orgulho!



sexta-feira, 3 de abril de 2009

chá de bebê







frutos do inconsciente





estas eu fiz no meu primeiro ano de faculdade. fazem parte de um portifólio chamado "Frutos do Inconsciente".
trabalho esse com base em um sonho que eu tive. eu paria mangas e das mangas saiam crianças.
escrevi assim na introdução:
Estava grávida. Enormemente grávida! E, num sussurrar de tempo, dei a luz à cinco mangas. Cinco lindas e cheirosas mangas. Descasquei três delas, uma de cada vez. De cada manga descascada nasceram três bebês. Ao todo eram nove! Nove horrorosos e irritantes bebês! E se abrisse as outras duas mangas restantes? No total seriam 15 crianças! Como cuidaria de tantos filhos? Fiquei angustiada e num ímpeto de desespero e insanidade joguei as duas mangas no lixo. Agora minha consciência me massarava: havia feito um aborto?
às vezes eu gosto. outras não.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

soluços

buenas.
tá tarde e eu deveria postar alguma(s) coisa(s). é pra amanhã. já to atrasada. mas enfim, vou deixar pra amanhã mesmo. afinal, deixe para amanhã o que você não tem condições de fazer hoje. tá tarde e eu nem deveria estar aqui. eu deveria estar em outro lugar, mas como não estou eu deveria estar na cama (no momento a opção mais óbvia pra mim, mas eu estou aqui. quem explica?).
nunca imaginei postar um post como um parto,,, na verdade é mais uma cesariana (de César?). existe pra mim, agora, uma certa dose anestésica. acho que vou cair em sono profundo........ é. deixa pra amanhã.